quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Sitio Passarim

Vera do Val Grobe

Quem conhece o Sitio Passarim tem certeza que Roberto Moita teve uma conversa com Deus. Fica claro que ambos fizeram um acordo. Um entrou com a natureza, outro com seu amor por ela e extrema sensibilidade. Foi um trabalho em dupla. A beleza fantástica do lugar não foi alterada e nem invadida pelo projeto. Muito pelo contrário, estão entremeados um ao outro, em simbiose perfeita. 


A mata e a Casa                                                                           foto Roberto Moita

                                      E desse respeito, dessa reverência,  nasceu o Passarim.

A obra está implantada junto a um dos grandes igarapés de águas limpas de nossa cidade, com direito a igapó, praia de areia branca, palmeiras nativas e até tucanos. 

A Casa na Mata                                                                   foto Marcos Lima

Os troncos malhados das árvores, com seus estranhos desenhos, criam palhetas de cor e texturas únicas.

“A Mata, o igarapé, o relevo levemente acidentado, o chão de folhas, o solo arenoso, os sons da floresta, a casa , seus troncos de madeira, o piso de pedra natural, a água da piscina , o jardim de plantas colhidas da mata, enfim, tudo isso faz parte de um microcosmo onde Homem, Arquitetura e Natureza se colocam lado a lado sem hegemonias.” -explica Roberto Moita.- 

O caminho para a Casa                                                                   foto Celio Jr.

“É como uma prova de que podemos ser mais respeitosos com o nosso frágil planeta e em particular com as belas paisagens deste mundo Amazônico. 

Inajás no Igapó            foto Marcos Lima 

Uma prova de que nossa cidade se desenvolve desperdiçando um legado de águas e floresta sem igual no planeta. Longe dos clichês, onde a preservação se dá pela intocabilidade, esta obra propõe a convivência harmoniosa entre a Arquitetura e a Natureza como paradigma para um novo habitat propriamente amazônico.”


                                                     foto Marcos Lima










Refúgio do arquiteto, onde costuma se recolher com amigos, a casa insinua-se no espaço, misturando-se,harmoniosamente, com a mata e o rio. O que chama mais a atenção é sua leveza, flutuando entre a copa das árvores. Ele pousa no terreno, mistura-se com ele. Esteja-se onde se estiver, na cozinha, na sala, quarto ou varanda, a paisagem é sempre elemento presente e participante. O interessante é que essa paisagem é mutável. Durante a cheia do rio as árvores, semi-submersas e misteriosas, induzem à contemplação, e quando da vazante as areias brancas surgem cintilando e a vontade é espraiar-se ao sol.



O térreo da Casa                                      foto Marcos Lima

Fugindo do óbvio, que seria um projeto campestre, e usando de materiais modernos, como o vidro e o aço, mesclados com concreto, pedra e madeira, a casa repousa sobre pilotis, escancarando-se toda para o igarapé. Na verdade trata-se de um exercício da linguagem arquitetônica inserida à situação de Manaus, uma cidade tanto industrial como florestal. Moita tratou com cuidado essa ambivalência, criando um contexto que revela um caminho para a urbanidade amazônica.

O superior da Casa                                                               foto Marcos Lima 
A casa distribui-se em dois pisos. O superior recolhido e íntimo, o térreo para receber amigos. Ali uma varanda ampla toma todo o espaço. Em uma ponta uma cozinha aberta, entrada de banheiro e despensa, na outra redes compondo a sala de estar, e a piscina pequena debruçada sobre as árvores.

A Casa e a  Mata                                                                                                                                                            foto Celio Jr.


A casa é sempre um retrato de quem mora nela. E nesse sítio isso nunca foi tão verdadeiro.


Texto originalmente publicado na edição de 
15 de outubro de 2005 do Jornal Correio Amazonense.

2 comentários:

  1. Juntando a esse texto e os comentários da minha filha Estella, é como se eu já conhecesse o lugar. Um dia lá irei... Se Deus quiser.

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  2. Bom dia Roberto,

    Parabéns pelo blog, muito bom.
    Sou arquiteto, e com uma colaboladora, tambem arquiteta, buscamos informações sobre as construções em palafita na Amazonia. Se pudermos entrar em contato, seria um prazer. meu email é joaofsneto@hotmail.com

    Atenciosamente

    João dos Santos

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